2025
MANIFESTO POR UM PACTO NACIONAL PELA FLORESTA E PELO TERRITÓRIO
Portugal está a arder.
Décadas de promessas falhadas e reformas inacabadas deixaram-nos reféns de um território vulnerável, despovoado e entregue ao abandono. Todos os anos repetem-se as mesmas imagens: casas em risco, pessoas em perigo, bombeiros exaustos, ecossistemas destruídos.
Isto não é inevitável. É o resultado da falta de visão e de coragem.
Não podemos continuar a entregar o futuro da floresta e do território aos ciclos curtos da política, à lógica da urgência mediática e ao improviso de medidas reativas. A tragédia dos incêndios não se resolve com mais mangueiras: exige uma transformação profunda e de longo prazo.
O que exigimos:
1. Um pacto nacional de 20 a 30 anos, blindado contra ciclos eleitorais e interesses partidários, com ciência, técnica e justiça social no centro das decisões.
2. Responsabilização clara das empresas, sobretudo as que lucram com o uso da terra, floresta e energia, para investirem na prevenção, resiliência, regeneração do território e biodiversidade.
3. Escrutínio público rigoroso, com relatórios anuais independentes, auditorias abertas à sociedade e acesso transparente a dados em tempo real.
4. Estratégias territoriais diferenciadas e participativas: o minifúndio do Norte não é o montado do Sul, nem o eucaliptal do litoral é a serra despovoada do interior.
5. Um ordenamento florestal regenerativo, que respeite as características do território, reforce mosaicos de biodiversidade e limite severamente extensas monoculturas de risco.
6. Uma economia da resiliência e da regeneração, que remunere quem cuida da terra e da floresta, valorize práticas agroflorestais sustentáveis e desincentive o abandono e as monoculturas vulneráveis.
7. Aplicação justa e transparente de créditos de carbono e pagamentos por serviços de ecossistema, premiando quem implemente manchas de vegetação autóctone, promova biodiversidade, proteja solo e água.
8. Educação, cultura e cidadania territorial: para que as novas gerações cresçam conscientes do valor da paisagem, dos serviços de ecossistema e do papel coletivo na sua preservação.
9. Uma aliança entre ciência, comunidades e instituições, reconhecendo a floresta como património vivo e bem comum, cuja gestão deve servir as gerações presentes e futuras.
O nosso apelo:
Portugal precisa de um pacto nacional pela floresta e pelo território. Agora!
NÃO é um favor às comunidades do interior - é condição para a sobrevivência coletiva.
NÃO é um custo - é um investimento no futuro do país.
NÃO é uma escolha - é uma obrigação moral.
Convocamos a ciência, as empresas, as autarquias e os cidadãos. Convocamos todos os que recusam assistir, de braços cruzados, à destruição repetida do nosso país.
O futuro da floresta e do território é o futuro do país.
É com esse objectivo que apelamos a todos que se juntem à SPECO, ao GEOTA e a outras ONGs para subscrever este manifesto. Juntos podemos contribuir com conhecimento e experiência para apoiar o país a renovar-se.
2025