Florestas e Biodiversidade
60 mil hectares ardidos: transformar a paisagem é agora ou nunca
Data
12
Agosto
2025
Autor
Autor:
GEOTA

Em 2025, até 15 de julho, tinham ardido 10 768 hectares, mas só nas últimas semanas terão ardido mais 50 000 hectares. Verificaram-se ainda vários incêndios de grandes dimensões, com áreas ardidas superiores a 100 hectares, em Arouca, Penamacor e no Parque Nacional da Peneda-Gerês. Estes incêndios, além de afetarem comunidades locais, causam perdas irreparáveis a ecossistemas sensíveis, comprometendo a biodiversidade, a qualidade do solo e o ciclo da água.

Perante esta realidade, é necessário realizar uma mudança profunda na forma como se gere o território e a floresta em Portugal. O GEOTA defende um modelo de  gestão florestal com espécies autóctones, ecologicamente adaptadas ao território, como o carvalho, sobreiro, medronheiro, castanheiro, pinheiro-bravo e outras espécies nativas. Esta opção permite restaurar a biodiversidade, conservar o solo, regular os ciclos hídricos e aumentar a resiliência às alterações climáticas, ao mesmo tempo que reduz o risco estrutural de incêndio.

Essa transformação, no entanto, só é eficaz se for feita com o envolvimento das pessoas. O GEOTA tem vindo a trabalhar lado a lado com proprietários, comunidades locais e instituições públicas, assumindo que mudar a paisagem é, acima de tudo, um processo social: ouvir quem vive nos territórios, perceber as suas necessidades e integrar o conhecimento local no planeamento das ações.

“Estamos diariamente a apoiar as comunidades afetadas e a recuperar o valor ecológico e económico das paisagens que foram devastadas pelos incêndios. Nesse sentido, a transformação da paisagem tem de ser vista sobretudo como uma transformação social que encaixe no contexto sociocultural específico de cada território. Trabalhamos com foco no restauro ambiental, mas é um trabalho sobre as pessoas.” — Miguel Jerónimo, coordenador dos projetos Renature.

Os territórios afetados pelos incêndios enfrentam uma degradação acelerada dos solos e dos ecossistemas e o impacto das alterações climáticas, fatores agravados pela ausência de gestão ativa da paisagem.

“Na serra de Monchique, temos vindo a observar sinais claros de desertificação nas zonas de menor altitude, especialmente em áreas com solos xistosos. As alterações climáticas estão a modificar as condições ecológicas da serra, forçando algumas espécies autóctones a procurar outros locais para sobreviver. O sobreiro e o medronheiro tendem agora a estabelecer-se em altitudes mais elevadas e o castanheiro em encostas mais húmidas. Esta mudança torna ainda mais crucial a fase de planeamento, sobretudo na escolha adequada das espécies, nas técnicas de preparação do solo e na calendarização das intervenções no terreno.” — Miguel Jerónimo, coordenador dos projetos Renature.

É com este princípio que os projetos Renature, dinamizados pelo GEOTA, estão a intervir na serra de Monchique, serra da Estrela e no Pinhal de Leiria. Estes projetos seguem uma metodologia estruturada e replicável, assente no envolvimento direto de proprietários e comunidades locais, na reflorestação com espécies autóctones, na atuação de equipas técnicas especializadas e no recurso a materiais contratados localmente. Contam ainda com parcerias com instituições públicas e são financiados por investimento privado. Até ao momento, os três projetos em curso totalizam mais de 1,8 milhões de árvores plantadas, cerca de 3.000 hectares intervencionados e a participação ativa de mais de 700 proprietários e comunidades.

“Sem o apoio do GEOTA não teria possibilidade de replantar este terreno. Antes do incêndio de 2018 o terreno era ocupado por eucalipto e algum medronheiro. Agora foi possível replantar esta área apenas com espécies autóctones, medronheiros e sobreiros” — José Nascimento, proprietário na serra de Monchique apoiado pelo GEOTA.

O trabalho do GEOTA nestes projetos demonstra que a boa gestão florestal é possível, mesmo em territórios profundamente marcados por incêndios, abandono e fragmentação de propriedades. Através da cooperação entre proprietários, acesso a apoio técnico e reforço da literacia ambiental, é possível reverter décadas de degradação e vulnerabilidade.

“Este projeto tem um valor enorme para nós. A comunidade de Cortes do Meio está profundamente grata e orgulhosa pelo trabalho que aqui tem sido feito na serra da Estrela e estamos comprometidos em dar continuidade ao projeto que iniciámos em conjunto com o GEOTA.” — Nuno Lourenço, representante da Junta de Freguesia de Cortes do Meio e Comunidade Local do Baldio da Freguesia de Cortes do Meio na serra da Estrela.

A dimensão ambiental e social destes projetos vai além da reflorestação. Durante a época de plantações, entre novembro e fevereiro, o GEOTA promove ações de voluntariado ambiental com as comunidades, escolas e empresas, fomentando o envolvimento ativo da sociedade na recuperação das paisagens.

“Os projetos de voluntariado desenvolvidos no âmbito do Renature Leiria, na Mata Nacional de Leiria, são socialmente relevantes, potenciando uma sensibilização geral, transversal a diferentes gerações da comunidade para o combate aos problemas ecológicos e a favor da sua recuperação ambiental.” — Engª Mónica Almeida, Chefe da Divisão de Gestão Florestal do Centro Litoral do ICNF - Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas.

Através dos projetos Renature já foram plantadas 1,8 milhões de árvores, intervencionados cerca de 3.000 hectares e apoiados 700 proprietários.

Perante a dimensão dos desafios que o país enfrenta neste momento, não podemos esperar pelo próximo verão para agir. O tempo da prevenção, do planeamento e da recuperação é agora e deve-nos envolver a todos.

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