2025
GEOTA exige reforço da aposta na eficiência energética e na produção descentralizada de energias renováveis para maior resiliência do abastecimento de eletricidade.
O “apagão” geral de 28 de abril deixou dezenas de milhões de consumidores sem acesso a eletricidade, um bem essencial que é a base dos serviços que tomamos por garantidos. Foi um episódio único na história recente. O GEOTA reconhece que a análise rigorosa das suas causas pode demorar, mas urge esclarecer rapidamente a população.
"Em momentos críticos como este serão encontrados bodes expiatórios e falsas soluções. Opiniões avulsas não se podem sobrepor a uma análise transparente, técnica e ponderada dos acontecimentos." - alerta Miguel Macias Sequeira, vice-presidente do GEOTA e investigador na Universidade NOVA de Lisboa.
Efetivamente, o sistema elétrico ibérico já operou inúmeras vezes com percentagens elevadas de energias renováveis sem qualquer constrangimento. A importação-exportação de eletricidade entre Portugal e Espanha é um processo permanente com benefícios para ambas as partes. Sendo certo que nos últimos tempos Portugal tem tido um saldo importador, o nosso País continua a ter capacidade de produção despachável nas centrais termoelétricas a gás natural e em centrais hidroelétricas de albufeira, que lhe permite ser autossuficiente. A importação dentro do mercado ibérico dá-se por motivos meramente económicos, sendo que, no dia 28, durante algumas horas Portugal estaria a ser pago para consumir eletricidade de Espanha. Ao contrário do que algumas vozes vêm a defender, a solução não é nem a reabertura das centrais a carvão (na prática substituídas pelas centrais a gás) nem a energia nuclear (extremamente cara, de construção demorada, com riscos conhecidos, pouco resiliente face a perturbações, e perpetuadora do modelo de rede assente em Mega centrais).
Em alternativa, o GEOTA destaca soluções que reúnem grande consenso entre especialistas: desde logo e em primeira prioridade, reduzir significativamente as necessidades através da eficiência energética (algo inscrito há muito nos planos energéticos nacionais mas na realidade ainda pouco apoiado); promover a flexibilidade da produção e consumo como parte de uma moderna rede inteligente; aumentar de forma racional a capacidade de armazenamento através de baterias; modernizar as redes de transporte; melhorar os sistemas de alerta e de resposta para estabilização da rede. Reconhece-se a necessidade de manter operacionais as centrais de ciclo combinado a gás natural, com utilização decrescente, mas ainda relevantes para o equilíbrio do sistema. Esta mudança de paradigma do sistema elétrico obriga a uma reestruturação do funcionamento do mercado de eletricidade.
Neste contexto, o GEOTA reivindica uma maior aposta na eficiência energética, e na produção de energia renovável descentralizada em autoconsumo e comunidades de energia. Para além de todas as outras vantagens ambientais, sociais e económicas, esta abordagem promove a resiliência e segurança do abastecimento de eletricidade em situações de crise. No entanto, Miguel Macias Sequeira avisa que "no modelo atual, a grande maioria dos sistemas fotovoltaicos estão acoplados à rede elétrica e desligam-se em caso de apagão", recomendando que "se pondere a instalação de energia solar com capacidade para operar desconectada da rede elétrica em algumas localizações críticas para resposta a estes eventos muito raros, mesmo que tal comporte custos superiores".
É fundamental agora esclarecer, quer as causas do apagão, quer a demora na reposição do serviço, para reduzir os riscos de eventos semelhantes no futuro. Ao GEOTA preocupa também a rapidez com que as comunicações e outros sistemas críticos falharam, a impreparação da população para eventos deste tipo e a aparente existência de apenas duas centrais elétricas capazes de iniciar o black-start. Ainda assim, louva-se o trabalho dos operadores das redes elétricas e das autoridades de proteção civil na resolução da crise.